Gordofobia é um tema prioritário, sobretudo dentro do feminismo, além também ser uma violência contra a mulher, um sistema de opressão. E eu, ainda que gorda, demorei a enxergar. 
Quando criança, entre os colegas de sala de aula, fui apelidada de Izabola – um “trocadilho”, já que meu nome é Izabela. Um tratamento hostil ao meu próprio corpo, feito por terceiros, que logo foi visto como engraçado e divertido. Foi ainda muito nova que aprendi que ser gorda era motivo de risos para os colegas, comportamento que mostrou como meu corpo gordo era inferior.  
Longe das limitações que o espaço estudantil oferecia, dez anos depois, algumas dietas, terapia e tentativas falhas de me aceitar, passei a ter contato com contextos não gordofóbicos, em que minha aparência era natural, em que minha saúde não era questionada por conta do meu peso, mas ainda com a preocupação de não viver uma vida padrão, aquela na qual fui inserida – a do padrão de beleza imposto pela sociedade, que gera transtorno, pânico, medo, repulsa. Compreendi que embora eu entenda que meu corpo não tenha que ser magro para eu ser feliz, a sociedade, as relações afetivo-sexuais, as oportunidades de emprego, vão cobrar que eu seja. 
A sociedade, no campo da medicina ou no campo da estética, humilha e inferioriza aqueles que são gordos, discriminando, propondo que as preocupações com os corpos gordos são questão de saúde, quando na verdade, partem de uma observação e julgamento do corpo do outro. Espera-se que o gordo tenha vergonha de si, que se deteste. Naomi Wolf, em “O Mito da Beleza” (P. x), descreve o sentimento que serviu para eu aceitar meu corpo gordo, “Viver com medo do nosso corpo e da nossa vida não é viver. As consequentes neuroses de medo da vida estão por toda parte”.
A Plum, que assim como eu, foi apelidada dessa forma por ser “redonda”, chama-se, na realidade, Alicia Kettle, e é uma personagem da série Dietland, baseada no livro de Sarai Walker, me ensinou, aos meus 25 anos de idade, aquilo que eu queria ter encontrado nos livros, nas séries e filmes, aquilo que eu queria ter entendido por mim mesma. 
“Eu não me odeio. O mundo me odeia. Por ser assim. Todos os dias eu ando nessa pele e as pessoas me olham como se eu tivesse uma praga. Eles agem como se eu fosse uma macha. Eles encaram e dão risada e gritam, e o pior de tudo, eles me falam que eu tenho o rosto tão bonito, e eles querem me dar lição de como eu posso arrumar o meu corpo, porque como eu sou, é errado”.
Ainda que exista representatividade gorda nos dias de hoje, com modelos e marcas plus size, essa representatividade, em sua maioria, não é real, não atinge os verdadeiros corpos, sobretudo no Brasil, e não passam de estratégias de marketing, mesmo que isso seja reflexo das ações de empoderamento de mulheres gordas, que, como eu, optaram por romper com os estereótipos e padronizações da sociedade, da mídia, dos médicos, dos colegas de infância, da família e de nós mesmas. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
WOLF, Naomi. “O Mito da Beleza”. 
ARRAES, Jarid. “GORDOFOBIA COMO QUESTÃO POLÍTICA E FEMINISTA”. Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/digital/163/gordofobia-como-questao-politica-e-feminista/. Acesso em: 21/04/2019.
JIMENEZ, Maria Luisa. “Dietland: a Gordofobia como questão Feminista.”. Disponível em: https://www.todasfridas.com.br/2018/09/25/dietland-a-gordofobia-como-questao-feminista/. Acesso em: 21/04/2019.
JIMENEZ, Maria Luisa. “Gordofobia, Mercado e Representatividade da Mulher Gorda”. Disponível em: https://www.todasfridas.com.br/2018/08/25/gordofobia-mercado-e-representatividade-da-mulher-gorda/. Acesso em: 21/04/2019.
PAIM, Bastos Marina. “Os corpos gordos merecem ser vividos”. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2019000100804&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Acesso em: 21/04/2019.
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