Apenas 4 entre 10 famílias têm acesso pleno à alimentação no Brasil, país onde 33,1 milhões de pessoas estão passando fome — esses dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II VIGISAN (da Penssan), de 2022. No ano de 2020, a mesma pesquisa apontou que 19,1% milhões de pessoas passavam fome no país, ou seja, após pouco mais de um ano, o número aumentou em 14 milhões de pessoas — isso é quase a população inteira da Holanda, para se entender a proporção e gravidade do problema.

A fome, em sua forma mais grave, é chamada de insegurança alimentar, e é diferente daquela que sentimos quando estamos há 12h de jejum para fazer um exame. É a fome sentida todos os dias, o tempo todo, sem que haja acesso algum a alimentos.
Em 2014, o Brasil saiu do mapa da fome da ONU, feito que só foi possível graças às políticas públicas e ações da sociedade civil. O Brasil daquela época, que tinha políticas voltadas à Segurança Alimentar e Nutricional, foi motivo de orgulho para muitos de nós por mais de uma década. Hoje, com os retrocessos que levaram ao desmonte das políticas de apoio às famílias, a negligência das autoridades, o negacionismo frente aos problemas climáticos, o apagão de dados oficiais, o aumento da pobreza e a inflação dos preços dos alimentos levaram ao aumento das desigualdades e da miséria, sobretudo da população preta ou parda, das mulheres e dos lares com crianças.
Outro dado que a pesquisa trouxe foi da coexistência entre insegurança alimentar e a crise hídrica: 42,0% das famílias em situação de Insegurança Hídrica estão também sujeitas à fome, conforme apontado na Escala de Experiência Domiciliar de Insegurança Hídrica (EDIH) — ou seja, essas pessoas convivem com fome e com sede. E é muito pouco provável que haja segurança alimentar sem que haja segurança hídrica.
Além da informação sobre o acesso à água, algumas outras são importantes demais para serem deixadas de lado: em 42,5% dos domicílios com responsáveis com escolaridade de até 4 anos de estudo, seus moradores estavam em IA moderada ou grave. O endividamento, a necessidade de parar de estudar para trabalhar e contribuir com a renda familiar e a venda de bens são dados que também aumentaram.

No âmbito da educação, está escancarada a informação de que há algo muito grave, pois garantir a educação é um direito social, além de ter-se revelado essencial para garantir alimentação para as famílias, isso sem mencionar as deficiências que a desnutrição causa na vida das crianças. Inclusive, o aumento da IA nos domicílios com crianças de até 10 anos de idade dobrou de 9,4% para 18,1% em um ano, o que demonstra negligência dos governos em relação ao PNAE.O cenário de insegurança alimentar é preocupante, e o agravamento desse cenário é ainda mais preocupante, pois é referente a uma grande parte da população brasileira — de novo, são 14 milhões de pessoas EM UM ANO. Famílias como a minha, a sua, idosos, adultos, crianças, recém-nascidos. O que estamos vivendo é resultado de uma crise econômica acentuada pela pandemia do coronavírus, negligência governamental e desestruturação de políticas públicas que ajudavam a manter centenas de milhares de pessoas mais distantes da IA.

“As mazelas assim formadas, dentre as quais se destacam as diferentes manifestações de IA, são repercussões das desigualdades sociais que derivam de processos econômicos e políticos que moldaram historicamente a sociedade brasileira (…) A destruição de instituições públicas e a desativação de políticas voltadas à proteção social, em curso desde 2016, estão na raiz do problema aqui exposto, deixando grande parte da sociedade desprotegida diante dos efeitos da crise sanitária que agravou a crise econômica que a antecedeu”. (p. 89).

Se entrarmos no âmbito da população negra e do racismo enfrentado, os números pioram muito. Por que não vou entrar nisso, então? Porque esse recorte vai muito além do que eu poderia explorar aqui. </3
Além de todos os agravantes já mencionados, a instabilidade política, a fragilidade das instâncias democráticas e o desprezo pelos direitos humanos são agravantes para a pobreza, para a fome e para as desigualdades.
Lutar para que melhorias sejam feitas é um papel meu e seu, começando em outubro, com a escolha do candidato certo (e só tem uma resposta certa!), para que nas próximas pesquisas, a minha ou a sua família não esteja incluída nessa porcentagem de população que saiu da situação de segurança alimentar.